Por Rubens Faria
Que pessoas idosas fazem sexo, isso já não é novidade. O assunto é discutido cada vez mais abertamente, há remédios para tratar a disfunção erétil e o envelhecimento está acontecendo de forma cada vez mais saudável; esses fatores contribuem para a saúde sexual na terceira idade. Ao mesmo tempo, há tabus e crenças que precisam ser desconstruídos, pois os idosos de hoje iniciaram sua vida sexual em um mundo pré-HIV. As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) tinham tratamentos eficazes e o planejamento familiar era feito por meio da pílula anticoncepcional; a camisinha era um objeto que passava ao largo de suas realidades e, até hoje, podem representar um desafio na hora de compor atitudes preventivas na vida sexual desse público.
A prova disso é o aumento do número de casos de pessoas idosas infectadas pelo HIV, vírus sexualmente transmissível que ataca as células do sistema imunológico, responsável pela defesa do corpo e que não tem cura. De acordo com o último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde sobre HIV/ Aids, publicado em 2019, o número de pacientes diagnosticados com HIV com mais de 60 anos em 2007 era de 97. 12 anos depois, em 2019, esse número foi mais de quatro vezes maior – somente entre as mulheres, o aumento foi de 600%. Em 2018, os casos registrados chegaram à marca de 1.029.
Por que o número aumentou?
Em parte, a alta está relacionada ao envelhecimento da população que foi infectada enquanto eram jovens e adultos. “Com os medicamentos e tratamentos atuais, pessoas com HIV têm uma expectativa de vida tão longa quanto qualquer um. Por isso, é esperado que os pacientes que tenham o vírus desde jovens se tornem idosos”, falou ao Portal Drauzio Varella a dr.ª Vivian Avelino-Silva, infectologista do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Por outro lado, pessoas em idades mais avançadas estão se contaminando mais. Fenômenos sociais que facilitam parcerias sexuais, como remédios que controlam a disfunção erétil, sites e aplicativos de paquera e a reposição hormonal garantem às pessoas idosas o redescobrimento do sexo. “Mas ainda há grande ocorrência de práticas sexuais inseguras, já que os idosos não têm o costume de usar camisinha. Isso contribui para que essa população se torne mais vulnerável à infecção pelo HIV e outras ISTs”, afirma a dr.ª Anita Campos, infectologista e diretora médica da Gilead Sciences.
Riscos específicos para a população idosa
O sistema de defesa do organismo é naturalmente menor em pessoas idosas. Portanto, mesmo após adesão ao tratamento, é provável que essas pessoas tenham mais dificuldade em recuperar totalmente a imunidade.
Doenças crônicas também podem ser complicadores para o tratamento, já que a polifarmácia, quando o paciente faz uso de diversos medicamentos, pode dificultar a utilização de medicações contra o vírus. “A Aids no idoso tem um impacto muito maior do que no jovem do ponto de vista físico, já que ele pode ter outras doenças em associação e, por isso, correr o risco de desenvolver formas muito mais graves de infecções e não ter a mesma resistência de um paciente mais novo”, afirma dr. Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
Outro problema crítico para o paciente idoso é o diagnóstico tardio. Segundo o dr. Jean, ainda para o Portal Drauzio Varella, mesmo quando um idoso com pneumonia, complicação decorrente da Aids, chega ao hospital, sua condição sorológica frequentemente não é investigada. “É comum que mesmo entre os exames de rotina o teste de HIV não seja solicitado, fazendo com que esses indivíduos só sejam diagnosticados no momento em que eles têm Aids, ou seja, quando ocorrem as doenças oportunistas”.