Como funcionam as vacinas bivalentes contra a Covid-19 aplicadas no Brasil

Como funcionam as vacinas bivalentes contra a Covid-19 aplicadas no Brasil

Por Lucas Rocha
Edição de Rubens Faria

As vacinas bivalentes contra a Covid-19 começaram a ser aplicadas no país em fevereiro. Pelo menos cinco capitais já começaram a aplicar as doses atualizadas: Manaus (AM), João Pessoa (PB), Recife (PE), Campo Grande (MS) e Vitória (ES). Outras 18 capitais dão início à imunização com o reforço bivalente.

Na primeira etapa, a campanha de imunização será voltada para públicos prioritários como estratégia de reforço.

As vacinas bivalentes contam com cepas atualizadas contra o coronavírus, incluindo a proteção contra a variante Ômicron. Os imunizantes foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em novembro de 2022. Os primeiros lotes de vacinas bivalentes chegaram ao país em dezembro.

São dois tipos de vacinas diferentes:
Bivalente BA.1 – protege contra a variante original e também contra a variante Ômicron BA1;
Bivalente BA.4/BA.5 – protege contra a variante original e também contra a variante Ômicron BA.4/BA.5.

Como funcionam as vacinas bivalentes

As vacinas bivalentes são identificadas por tampa na cor cinza. Cada frasco possui seis doses e a vacina não deve ser diluída. O uso é indicado para a população a partir de 12 anos de idade como vacinação de reforço.

A Anvisa aponta que as doses devem ser aplicadas a partir de três meses após a série primária de vacina ou reforço anterior. As doses têm prazo de validade de 12 meses, quando estocadas de -80°C a -60°C ou de -90°C a -60°C. Além disso, podem ser armazenadas em geladeira, entre 2°C e 8°C, por um único período de até dez semanas, não excedendo a data de validade original.

A vacina da Pfizer bivalente BA.1 está aprovada em pelo menos 35 países. Já a versão bivalente BA.4/BA.5 está aprovada em 33 países, como Canadá, Japão, Reino Unido, Estados Unidos, Austrália e Singapura, entre outros, além da União Europeia.

Na reunião da Anvisa que definiu a aprovação, a diretora relatora Meiruze Freitas explicou que o objetivo do reforço com a vacina bivalente é expandir a resposta imune específica à variante Ômicron e melhorar a proteção da população.

“Entretanto, as pessoas, principalmente os grupos de maior risco, não devem atrasar sua vacinação de dose de reforço já planejada para esperar o acesso à vacina bivalente, pois todas as vacinas de reforço aprovadas ajudam a melhorar a proteção contra casos graves e morte por Covid-19”, afirmou a diretora da Anvisa.

Segundo a Pfizer, a finalidade do reforço com a vacina bivalente de RNA mensageiro (mRNA) é conferir uma maior proteção frente às variantes Ômicron, consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como variantes de preocupação, quando comparada à sua versão monovalente atualmente registrada no país.

Ampla resposta imunológica

O reforço com a vacina bivalente da Pfizer contra a Covid-19, que também contempla as sublinhagens BA.4 e BA.5 da Ômicron, apresenta resposta imune significativamente superior em comparação com a vacinação com o imunizante original da farmacêutica. As informações foram divulgadas pela Pfizer em novembro.

Segundo o comunicado, dados atualizados de um ensaio clínico de fases 2 e 3 demonstraram uma resposta imune neutralizante robusta um mês após uma dose de reforço da vacina bivalente. A imunidade gerada foi acompanhada de um perfil de segurança e tolerabilidade semelhante entre as duas vacinas.

O desenvolvimento de vacinas atualizadas busca contemplar as mutações sofridas pelo coronavírus ao longo da pandemia. A primeira geração de vacinas foi desenvolvida a partir da cepa original do vírus, que circulou no início da pandemia, em 2020.

“Esses resultados reforçam os dados clínicos iniciais relatados anteriormente medidos 7 dias após uma dose de reforço da vacina bivalente, bem como os dados pré-clínicos, e sugerem que uma dose de reforço de 30 µg da vacina bivalente adaptada pode induzir um nível mais alto de proteção contra as sublinhagens BA.4 e BA.5 da Ômicron do que a vacina original”, diz o comunicado.

“À medida que nos aproximamos da temporada de festas de fim de ano, esperamos que esses dados atualizados incentivem as pessoas a procurar um reforço bivalente da Covid-19 assim que forem elegíveis, a fim de manter altos níveis de proteção contra as sublinhagens BA.4 e BA.5 da Ômicron amplamente circulantes”, disse Albert Bourla, presidente e CEO da Pfizer.

“Esses dados atualizados também fornecem confiança na adaptabilidade de nossa plataforma de mRNA e nossa capacidade de atualizar rapidamente a vacina para corresponder às cepas mais prevalentes a cada temporada”, completa.
Para as análises, as amostras de soro foram coletadas antes e um mês após a administração de uma dose de reforço de 30 µg (quarta dose) da vacina bivalente adaptada.

Um subconjunto de indivíduos, uniformemente estratificado entre aqueles que tinham evidência de infecção prévia pelo SARS-CoV-2 e aqueles que não tinham, foi selecionado para idades de 18 a 55 anos e acima de 55 anos. Para comparação, foi selecionado aleatoriamente um grupo de participantes com mais de 55 anos que receberam uma dose de reforço da vacina original em estudos anteriores.

Os participantes que receberam a vacina bivalente tiveram sua dose de reforço anterior aproximadamente 10 a 11 meses antes, enquanto aqueles que receberam a vacina original tiveram sua dose de reforço anterior aproximadamente 7 meses antes. Apesar dessa diferença, os títulos de anticorpos pré-reforço foram semelhantes para ambos, segundo a Pfizer.

Entre a população geral do estudo que recebeu a vacina bivalente adaptada, houve um aumento substancialmente maior nos títulos de anticorpos neutralizantes contra as sublinhagens Ômicron em comparação com os níveis pré-reforço. Por outro lado, os participantes com mais de 55 anos de idade que receberam uma dose de reforço da vacina original tiveram uma resposta de anticorpos neutralizantes mais baixa contra as sublinhagens BA.4 e BA.5, medida um mês após o reforço.

Importância das vacinas monovalentes

O surgimento de variantes do coronavírus levou à redução da eficácia das vacinas monovalentes contra infecções sintomáticas, mas essas vacinas ainda mantêm a efetividade contra a doença na forma grave e óbitos, desde que sejam tomadas as doses conforme a recomendação do Ministério da Saúde.

Os estudos de acompanhamento das vacinas indicam que as doses de reforço de vacinas monovalentes restauraram uma proteção contra desfechos graves associados à Ômicron.
Essa proteção diminuiu ao longo do tempo com algumas diferenças relacionadas à idade, e particularmente durante um período de predominância da subvariante BA.4/BA.5.

Fonte: CNN Ler mais

O diagnóstico tardio do Transtorno do Espectro Autista – um desafio para pessoas idosas

O autismo, atualmente chamado de Transtorno do Espectro #Autista (TEA), era antes associado à infância. Hoje, com o avanço das pesquisas sobre a condição e o desenvolvimento das habilidades diagnósticas, está se tornando cada vez mais comum que pessoas idosas descubram que convivem com o transtorno desde sempre.

Saiba quais são os sinais que você deve ficar atento para reconhecer se uma pessoa convive com o TEA e quais as recomendações de tratamento. Ler mais

Dia Internacional das Mulheres e a situação da mulher idosa

Dia Internacional das Mulheres e a situação da mulher idosa

Por Rubens Faria

Nada é tão certo na vida quanto o envelhecimento. Contudo, para as mulheres, envelhecer é um processo de resistência. Resistência às pressões sociais que valorizam a juventude e culpabilizam o corpo fora do padrão. Resistência aos aspectos fisiológicos do envelhecimento, que por vezes acometem mais às mulheres do que aos homens. Resistência à imposição dos papéis familiares que, durante muitas décadas, enquadraram a mulher exclusivamente em seus aspectos reprodutivos, tendo como centralidade de sua vida o lar e os cuidados com os membros da família.

“Atualmente, as mulheres idosas continuam dando suporte à família, por serem muitas vezes as provedoras por meio da aposentadoria, pensão ou benefícios. Com o aumento da expectativa de vida, mais mulheres acima dos 60 anos se tornaram cuidadoras de seus pais, também idosos. Além disso, ajudam a cuidar dos netos ou a fazer os serviços domésticos para os filhos”, afirma a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Dra. Ivete Berkenbrock.

Ana Amélia Camarano, coordenadora de Estudos e Pesquisas de Igualdade de Gênero, Raça e Gerações, da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), salienta que envelhecer é questão de gênero: “Além de termos mais mulheres idosas do que homens, as mulheres cuidam de seus maridos e depois não tem ninguém para cuidar delas. Elas são as principais cuidadoras, mas também são as que demandam mais cuidados, são mais sujeitas a hipertensão, a problemas de artrite e artrose, depressão etc”.

Uma forma relevante de suporte a essas mulheres são as chamadas redes de apoio, compostas, em muitos casos, por familiares. “Ter uma rede de apoio não apenas às necessidades físicas ou financeiras, mas principalmente emocionais. Ter pessoas com quem possa conversar, que escutem, orientem, com as quais a mulher possa trocar. Essa rede será resultado do que chamamos de reserva afeita, ou seja, daquelas relações que construímos ao longo da vida”, explica Ivete.

Entretanto, a pandemia de Covid-19 pode ter afetado as relações dessas mulheres com sua rede de apoio. “Apesar de ainda estar alto, houve uma diminuição no índice de mortalidade por Covid-19 entre idosos e as mulheres são as que estão sobrevivendo mais. O que pouco se fala é que a gente não sabe como serão as sequelas das pessoas que apresentaram quadro grave da doença, assim como não sabemos o impacto que o confinamento deixou nas pessoas idosas (crise de ansiedade, depressão, falta de exercício físico, etc). Portanto, a demanda por serviços de saúde tende a aumentar. Não apenas a procura por médicos, mas por fisioterapeuta, psicólogo etc”.

Ivete ainda acrescenta a importância de políticas públicas que garantam suporte às mulheres idosas. “É de suma importância que possamos trazer à tona pautas direcionadas aos direitos sociais da população idosa, em especial aos da mulher idosa. Que tenhamos um olhar mais atento a esse público que executa um papel social importante e que muitas vezes é invisibilizado”.

Fonte: SBGG Ler mais

Nova droga contra o Alzheimer traz otimismo e cautela na comunidade científica

Pela primeira vez em décadas, um medicamento se mostrou eficaz em conter o avanço da doença de Alzheimer em humanos. A pesquisa foi publicada no último dia 29 na revista New England Journal of Medicine.

Conhecido como Lecanemab, o medicamento possui algumas limitações relacionadas a riscos de hemorragias e inchaço cerebral – o que levou 7% dos voluntários a deixarem os testes após apresentarem efeitos colaterais. Além disso, a droga funciona nos estágios iniciais da doença, implicando que boa parte das pessoas não se beneficiariam dela – é frequente que a condição só seja investigada após a aparição de sinais e, muitas vezes, em estágios relativamente avançados.

Ainda assim, os resultados são importantes dentro de um contexto em que este é o primeiro avanço no tratamento contra o Alzheimer em mais de 30 anos de pesquisa. A professora Tara Spires-Jones, da Universidade de Edimburgo, afirmou que os resultados são “importantes porque tivemos uma taxa de falha de 100% por muito tempo”.

Hoje, os únicos medicamentos disponíveis são relacionados ao controle dos sintomas, mas nada que mude o curso do Alzheimer propriamente dito.

De acordo com a BBC Brasil, “o estudo em larga escala envolveu 1.795 voluntários em estágio inicial da doença. Os resultados, apresentados na conferência Clinical Trials on Alzheimer’s Disease em São Francisco, Estados Unidos, não revelam uma cura milagrosa. A doença continuou a deteriorar as funções cerebrais das pessoas, mas esse declínio foi retardado em cerca de um quarto ao longo dos 18 meses de tratamento”.

Os resultados estão sendo avaliados pela FDA, órgão regulador dos EUA, que em breve deve aprovar se o Lecanemab pode ser aprovado para uso mais amplo Eisai e Biogen, desenvolvedores da droga, planejam solicitar a mesma permissão em 2023, em outros países. Ler mais

A arte negra e o legado da nossa ancestralidade

A cultura afro-brasileira é, sem dúvida, uma mescla da herança e dos costumes que os povos africanos escravizados trouxeram para o Brasil. Falar da arte no Brasil e não citar os nossos ancestrais é um erro gigantesco. Quando você pergunta a alguém sobre a arte da comunidade preta no Brasil, a primeira resposta que vem é o samba e o carnaval. Sim, o samba é um dos pilares dessa riqueza, mas a nossa arte não se limita a isso. O nosso povo é plural, nossa riqueza está nas artes e na africanidade. Somos herdeiros de um povo que sofreu muito, mas o legado deixado é lindo: mistura de luta, arte e história. No decorrer dos anos nos deparamos com diversos artistas, esquecidos, talvez, por conta do racismo estrutural que está presente na sociedade. O racismo impossibilitou que um grupo de artistas que participou de exposições como “NegrosPintores” fosse lembrado nos dias atuais. Se faz muito necessária essa pauta dentro das instituições educacionais para que as pessoas conheçam os trabalhos destes artistas. Nomes importantes para a compreensão da história da arte moderna permanecem desconhecidos. Entre eles, podemos citar Wilson Tibério, um gênio das artes plásticas. De origem simples, o artista era afrodescendente. Ele sofreu no percurso da sua trajetória. Filho de uma costureira, nasceu nos anos 1920, lá em Porto Alegre. Tibério tinha o hábito de ir às favelas cariocas para desenhar, pois ali encontrava inspirações para as suas obras. Sua carreira foi promissora, levando seu nome e talento para Europa, Ásia e África. Era engajado em registrar a cultura e a identidade negra. O legado da autora de grandes obras de nossa literatura, Carolina Maria de Jesus, é importantíssimo. Ela foi uma das personalidades negras que fizeram a diferença no Brasil. Com uma história de vida difícil, Carolina foi catadora de papel e viveu alguns anos de sua vida na favela do Canindé. Nas horas livres, Carolina escrevia e, no ano de 1941, foi publicado no jornal Folha da Manhã um poema de sua autoria. Uma das primeiras escritoras negras do país, tem que ser lembrada e enaltecida pelas obras que nos deixou. Nos dias atuais temos grandes nomes que percorrem diferentes aspectos culturais. Quero destacar o talento de um jovem periférico, Maxwell Alexandre, cujo trabalho lindo retrata a vida do povo preto. Muitas de suas obras são feitas através de seu cotidiano, imagens que mostram o dia a dia dentro de uma comunidade. O artista nasceu no Rio de Janeiro, nos anos 1990, e até hoje trabalha e vive na comunidade da Rocinha. Sua jovem carreira tem reconhecimento internacional e nos deixa muito lisonjeado, pois, suas obras tem o negro como protagonista. Tive a oportunidade de visitar sua exposição e um museu importante em São Paulo. “Pardo é Papel”, na mostra o artista pinta corpos pretos sobre o papel pardo, a “cor” parda foi usada durante muito tempo para velar a negritude no nosso país, o que contribuiu para essa desigualdade social e o racismo que vivemos até os dias de hoje. Andando pelas ruas em São Paulo, podemos observar o trabalho lindo de outro jovem preto. Robinho Santana é artista visual, pesquisador e músico experimental. Suas obras são reflexivas, homens e mulheres periféricas são retratados em seus painéis. A narrativa positiva pode ser observada em prédios importantes de algumas capitais. O grafiteiro nasceu em Diadema, no grande ABC. Seu pai era líder sindical, o que fez dele um jovem sempre presente nos protestos e manifestações. Aqui no Brasil, lá em Minas Gerais, uma das suas obras virou caso de polícia. Após realizar uma pintura em homenagem as mães. Luta e resistência faz parte da sua trajetória. Todavia, a herança africana está presente na nossa cultura. Nossos bens produzidos historicamente devem ser discutidos e sempre mantidos. Somos Arte o tempo todo. Respeitem nossa história. Ler mais

Tratamentos alternativos: fique atento aos riscos

Tratamentos alternativos: fique atento aos riscos

Fonte: Veja Saúde, Chloé Pinheiro
Edição: Rubens Faria

Paulinha Abelha era uma saudável cantora de 43 anos. À frente da banda de forró Calcinha Preta, tinha uma voz potente e um corpo considerado “padrão”. Em fevereiro, deu entrada em um hospital de Aracaju com problemas nos rins. Rapidamente, seu estado piorou, complicações surgiram em outros órgãos e, devido a uma infecção adquirida nesse momento de fragilidade, ela entrou em coma e faleceu.

Dada a severidade da situação, os médicos que a atenderam passaram a suspeitar que Paulinha tivesse sido intoxicada por alguma substância. Depois da morte, o programa Fantástico, da TV Globo, exibiu uma reportagem em que o marido da cantora conta que ela tomava com frequência diuréticos (remédios que eliminam água do organismo) e chás para emagrecer. Paulinha, segundo ele, recorria às fórmulas quando “queria dar uma secada”.

O triste caso, ainda sob apuração, veio à tona poucos dias depois de outra tragédia. Mara Abreu, uma enfermeira também saudável, de 42 anos, morreu em São Paulo após sofrer uma hepatite fulminante.

Na casa dela, a pedido dos médicos, a família achou cápsulas de um produto chamado “50 ervas emagrecedoras”. Mesmo proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2020, o composto é facilmente encontrado na internet.

Isso evidencia dois comportamentos (ou vacilos) antigos no país: o interesse absurdo por soluções milagrosas para o peso e a saúde e certa leniência das autoridades em relação a tudo que é “terapia alternativa”. No Brasil, elas não só são vendidas em qualquer esquina como práticas não estudadas ou já desmentidas pela ciência são ofertadas na rede pública.

“Todos querem uma solução rápida, fácil e indolor para suas queixas, e hoje temos um facilitador, que é o excesso de informação duvidosa disponível na internet”, analisa o endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto.

Para além da faceta mais crítica do uso de uma erva potencialmente tóxica, a dita “medicina alternativa” é um balaio onde encontramos terapias que pouco ou nunca se mostraram eficazes e seguras em pesquisas robustas e confiáveis, sendo que a maioria é aplicada por não médicos — embora haja espaço para a pseudociência na medicina.

Fazem parte do grupo práticas tão diversas como uso de florais e remédios homeopáticos, diagnóstico de doenças pela leitura da íris, constelação familiar, cura por imposição de mãos… São centenas de métodos que, apesar de diferentes entre si, compartilham de uma mesma ideologia.

“Seu principal apelo é justamente o fato de estarem de fora do universo da ‘indústria farmacêutica’ e de uma medicina ‘muito técnica’, desconectada do paciente, mesmo que isso não seja verdade. Um exemplo é a medicina ortomolecular, que prega a ingestão de hiperdoses de vitaminas”, expõe o jornalista científico Carlos Orsi, do Instituto Questão de Ciência (IQC), que se debruça há anos sobre o assunto.

Só que, no meio de tanto joio, há aquelas abordagens que vêm sendo avaliadas em estudos e demonstrando resultados animadores, como acupuntura, meditação, ioga e algumas soluções fitoterápicas. E ninguém discorda do argumento de que a medicina deve, sim, ser mais acolhedora e humanizada. Para diferenciar uma coisa da outra, duas novas denominações foram criadas nesse campo: a medicina integrativa e a complementar.

“Elas trazem a ideia de adotar modalidades não para substituir um tratamento, mas para auxiliar o cuidado com práticas estudadas pela ciência que podem estar fora da medicina tradicional”, resume o médico Adam Perlman, da Clínica Mayo, nos Estados Unidos.

Perlman participa de um consórcio com mais de 75 instituições americanas, incluindo as principais universidades do país, para identificar que terapias não convencionais realmente têm algum valor.

Sem esse rigor metodológico, os perigos à espreita dos pacientes são muitos: do abandono de tratamentos que funcionariam à detecção de doenças em estágio tardio, quando não podem mais ser curadas, passando por danos diretos causados por um produto ou profissional que ninguém fiscaliza direito.

O combate às pseudoterapias é urgente, mas empaca em fortes obstáculos. E alguns estão dentro da nossa própria cabeça.

De inofensivas, nada

O caso dos chás e ervas supostamente emagrecedores é um dos melhores exemplos dos riscos envolvidos nas terapias alternativas. E de por que elas são tão atraentes.

Em primeiro lugar, parecem oferecer vantagens diante de uma condição complexa, cheia de estigmas e por vezes difícil de controlar, como a obesidade.

“Infelizmente, os médicos dificultam muito o tratamento real. Os endócrinos no geral estão bem preparados para isso, mas as outras especialidades frequentemente dão a impressão de que basta fechar a boca e ‘ter vergonha na cara’ para emagrecer”, diz a endocrinologista Lorena Amato, professora da Universidade Nove de Julho, na capital paulista.

Somam-se a isso os próprios temores dos pacientes em relação a abordagens mais consagradas (medicamentos e cirurgias) e a frustração e a ansiedade durante um longo plano de reeducação alimentar e prática de exercícios.

A saída, então, é buscar soluções mais rápidas por conta própria. “Uma pesquisa ouviu consumidores de fitoterápicos para emagrecer em um grande e-commerce a fim de entender os motivos que os levavam à compra. A resposta da maioria deles foi: ‘Porque o site não me julga’”, conta Lorena. “Ou seja, se o paciente se sentisse seguro e acolhido pelo profissional, provavelmente não precisaria recorrer a isso”, completa.

Pesa ainda o fato de a obesidade ser um problema crônico, que costuma exigir acompanhamento, exames e mudanças permanentes de comportamento. Nesse cenário, o discurso alternativo cai como uma luva, pois implica que há outra rota, menos agressiva ou exigente, para chegar lá — e, se natural, melhor ainda.

E é assim que seduz pessoas com outras doenças prevalentes, caso de hipertensão, depressão e diabetes. Sobre esse último, uma grande revisão de estudos publicada no European Journal of Pharmacology mostra que até 51% dos pacientes já partiram para algum método alternativo a fim de tratar a doença, sendo que os mais populares foram acupuntura, homeopatia e cura espiritual.

Para piorar, em 21% dos casos essa escolha implicou no abandono da terapia prescrita pelo médico, e 67% dos indivíduos nem tocaram no assunto no consultório.

O perigo mais óbvio disso é deixar de controlar uma doença capaz de deixar sequelas de uma forma comprovadamente eficaz e segura. No caso de chás e ervas, ainda há a ameaça de reações adversas, que acabam escondidas sob a alegação de que aquilo vem “da natureza”.

“Algumas substâncias, em especial as não regulamentadas pela Anvisa, podem atacar o fígado, que é um dos grandes órgãos desintoxicantes do corpo e por onde praticamente todo remédio, natural ou não, passa. Em um quadro como a hepatite fulminante, um composto tóxico promove uma destruição rápida de grande porcentagem das células do órgão”, descreve Lorena.

Não para aí, não. “Pode haver alterações gástricas, além de um efeito diurético em excesso, que leva à desidratação e traz riscos aos rins, fora os danos ao intestino provocados por substâncias laxativas”, nota a médica.

No caso específico do emagrecimento, mesmo aqueles produtos rotulados como “alimentícios” — cápsulas e chás para desinchar ou queimar gordura, por exemplo — merecem atenção. “A pessoa toma pensando que está emagrecendo, mas está perdendo apenas líquido, sem contar que deixa de investigar a real causa do inchaço, que pode ser uma condição de saúde tratável”, avisa a endocrinologista.

Fitoterapia não é bagunça

“O que provocou a morte da enfermeira não é nem um chá nem algo que possa ser considerado um fitoterápico. É um produto clandestino, cuja real composição, eficácia e segurança desconhecemos”, adianta o farmacêutico Leandro Medeiros, professor da Universidade Católica de Pernambuco.

O esclarecimento é importante para lembrar que a fitoterapia séria engloba métodos e profissionais comprometidos. Abrange desde ervas tradicionais como o boldo para aquele mal-estar a produtos regulamentados e comercializados nas farmácias.

Trata-se de um campo promissor para estudos, com formulações hoje aptas a aliviar sintomas mais brandos como dor de garganta, náusea e dificuldade transitória para dormir.

Só que muita tranqueira acaba se vendendo como “cura natural”. “Você tem compostos vegetais com perfil de segurança e eficácia conhecidos, mas teorias quase esotéricas com determinadas flores e ervas. Mistura-se ciência com picaretagem”, aponta Orsi.

Uma doença que frequentemente leva as pessoas à busca de soluções mágicas é o câncer. Não faltam teorias por aí de que um tumor pode ser prevenido com força de vontade, e até mesmo tratado ao atacar uma possível causa espiritual ou tomar um composto milagroso.

Em 2017, o jornalista Marcelo Rezende morreu de câncer depois de abandonar seu tratamento para apostar em dietas e coisas como banhos de sal do Himalaia.

“Na oncologia, preocupa muito a falta de informação, porque o desfecho não é só uma diarreia por tomar um chá. A grande questão é que pagamos com a vida ao atrasar tratamentos e diagnósticos, porque tumores iniciais combatidos adequadamente terão maior chance de cura”, explica o oncologista Thiago Chulam, diretor do Departamento de Prevenção e Diagnóstico Precoce do A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo.

Uma pesquisa recente dessa instituição junto ao Hospital Alemão Oswaldo Cruz revela que, num grupo de 319 pacientes oncológicos, 34% recorreram a práticas alternativas — destaque para a cirurgia espiritual — e 66% nunca discutiram o tema com o médico.

A ideia de psicologizar (ou mesmo espiritualizar) a origem da doença tem nuances problemáticas. “Uma falta de apetite, por exemplo, pode ser interpretada como um movimento de ‘entregar os pontos’, sendo que, na verdade, é uma consequência da doença ou do tratamento que requer atenção médica”, diz o paliativista Daniel Neves Forte, coordenador da equipe de Cuidados Paliativos do Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista.

Assim como a Clínica Mayo e outros hospitais prestigiados lá fora, centros de renome no Brasil como o Sírio e o A.C.Camargo entendem que há lugar para terapias que visam ao bem-estar do paciente e tenham uma pegada mais holística, desde que baseadas em evidências e respeitando as devidas limitações.

“Não consigo chamar de medicina nada que não se submeta à ciência, mas a profissão também é uma prática de humildade, porque, pela própria estrutura do método científico, nunca saberemos tudo. Nesse sentido, não vejo problemas em usar práticas de cuidado multidisciplinares de baixo risco que buscam promover relaxamento e qualidade de vida, desde que sejam esclarecidas e consentidas”, opina Forte.

Ele cita o caso de um paciente internado que só melhorou da insônia com massoterapia, depois de já se mostrar resistente ao tratamento com medicamentos e outras intervenções. A redução de ansiedade, estresse, fadiga e medo está entre os principais objetivos da inclusão da medicina integrativa na jornada contra o câncer.

“É um equívoco entender que o cuidado de um paciente se esgota na prescrição do tratamento”, ressalta o médico de família Angelmar Roman, da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).

O ponto é que há quem se apoie nesse discurso para ir mais longe e passar por cima até da ética da profissão. “Tem pessoas que se aproveitam do desespero de alguém que quer se sentir melhor frente ao diagnóstico de uma doença grave para oferecer, por exemplo, megadoses de vitamina D e outras práticas sem comprovação”, relata Fortes.

E é questionável a máxima do “mal não faz” por trás de ideias aparentemente inofensivas como a homeopatia, que se apoia numa teoria de mais de 200 anos que continua sendo desacreditada pela ciência, ou técnicas que prometem uma cura energética pela imposição das mãos.

Por trás do raciocínio de que tomar gotas com componentes diluídos ou trocar vibrações são saídas eficientes reside a expectativa (ou ilusão) de se ter uma resposta para tudo no cotidiano.

Não deixa de ser uma espécie de medicalização às avessas, que usa, em vez de fármacos, alternativas para qualquer finalidade.

“Você pode estar se sentindo para baixo e tomar um floral, e de fato ficar feliz, mas isso provavelmente se deve ao efeito placebo [acreditar que vai melhorar] ou a outras razões sociais e biológicas. O mesmo ocorre com a Covid-19: o indivíduo toma cloroquina e melhora, o que teria acontecido com ou sem o remédio, pois esse é o curso natural da doença em mais de 90% dos casos. Se você acredita nisso para algo mais leve, por que não pensaria assim diante de um câncer?”, reflete o divulgador científico Wasim Syed, da União Pró-Vacina.

A pessoa até compra uma ideia inofensiva, porque ninguém fala oficialmente em abandonar tratamentos convencionais, mas pode acabar levando para casa teorias da conspiração de brinde. E é nessas que vira vítima de um charlatão ou de um profissional de boa-fé, mas que pouco entende do riscado.

O cérebro humano é uma máquina fantástica, que ainda esconde muitos segredos. Um dos mais deslumbrantes mistérios é o efeito placebo, processo capaz de desencadear mudanças químicas e físicas que levam à melhora de sintomas.

Para que ele ocorra, não são necessárias condições tão específicas: basta ser convencido de que aquilo que você está tomando ou fazendo terá alguma utilidade. “Acreditar que está sendo tratado já pode produzir efeitos físicos e mentais”, afirma o psicólogo social Ronaldo Pilati, professor da Universidade de Brasília (UnB) e autor do livro Ciência e Pseudociência, da Editora Contexto.

Invocando essa habilidade, muitas práticas podem funcionar em certos cenários, como as gotinhas de água aromatizada com um pouco de álcool dos florais. Tanto que, nos estudos com dores, alterações de humor e outros sintomas subjetivos, é difícil distinguir o placebo da ação terapêutica.

“Fizemos uma pesquisa com pacientes com fibromialgia divididos em dois grupos, metade tomando terapia intravenosa com vitaminas de verdade, metade recebendo soro fisiológico. As duas táticas conseguiram reduzir as dores de maneira semelhante. No fim das contas, a ação das vitaminas não foi estatisticamente relevante por causa da força do efeito placebo”, ilustra Perlman, da Clínica Mayo.

O leitor, se for curioso como a autora, há de se perguntar: se isso acontece sem que seja necessário tomar remédios como antidepressivos ou analgésicos, qual seria o problema de explorar esse superpoder da mente?

De fato, o efeito placebo pode ser estudado para fins terapêuticos. E isso já está acontecendo. Só que, até agora, não sabemos bem como manipulá-lo de um jeito que não envolva enganar a pessoa (o que é antiético). E há outros desafios. “Uma das preocupações em considerá-lo como intervenção é que o alívio das queixas tende a ser temporário”, sinaliza Perlman.

“Fora que, por amenizar sintomas e não tratar de verdade doenças existentes, o quadro pode ir se agravando até chegar a um ponto difícil de controlar”, esclarece o psiquiatra Cláudio Martins, vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Quando vão bem nas pesquisas, táticas como a homeopatia no máximo se igualam ao placebo. Assim, seria melhor buscar estratégias que ao menos ultrapassem essa linha de corte cognitiva. Outra questão, ou melhor, efeito, é o bola de neve: se o sujeito tomou um placebo e ficou numa boa, reforça sua crença naquele ritual em específico. E o cérebro ama um reforço positivo!

Os mecanismos de crença são tão intrínsecos à cognição humana e à organização da sociedade que provavelmente surgiram há dezenas de milênios, quando sofremos o salto evolutivo que nos promoveu a Homo sapiens.

“Temos uma necessidade de precisão e previsão no nosso dia a dia. Precisamos ser capazes de confiar que o elevador não vai cair, que um prédio sustenta suas lajes, e inconscientemente reforçamos esses pensamentos a todo momento”, diz Pilati.

Só que nem tudo é concreto. No imaterial campo das ideias e convicções, podemos acreditar em qualquer sistema, especialmente se ele estiver assentado em uma teoria bem construída, que associa fatos e dá evidências pessoais e anedóticas — “Sempre usei e funcionou” ou “Trato pessoas há anos sem reclamações”.

Ninguém está errado, portanto, por acreditar em algo sem explicação “científica”, como uma visão esotérica ou um dogma religioso. E todo cidadão tem o direito e a liberdade para escolher que caminho tomar. O erro é transpor esse raciocínio para práticas de saúde com terceiros, limitar o acesso a dados verídicos e tomar decisões públicas com base nisso.

A busca por infalibilidade na nossa compreensão do mundo tem um efeito colateral pernicioso: a dificuldade de largar o osso quando acreditamos em algo que deixa de fazer sentido.

Ao recebermos provas que contradizem algo em que cremos, a tendência é refutar de imediato e tentar racionalizar aquilo. “A pessoa insere mais elementos para manter uma perspectiva racional à sua crença. Se ela crê que o homem não foi à Lua e vê uma foto tirada do espaço, diz que a agência espacial está envolvida num conluio”, compara Pilati.

E o oposto também acontece: somos mais benevolentes e receptivos com histórias que confirmam o que pensamos, em especial quando elas vêm de casos próximos. Fazer um exame crítico de teorias e causos, desprovido de paixões, é um desafio inclusive para os profissionais que lidam com ciência e saúde.

O contexto social também influencia os mecanismos de crença. Não basta acreditar em algo, é preciso compartilhar com a tribo. “No caso das terapias alternativas, há comunidades consolidadas de profissionais, que criam associações, revistas, redes virtuais… Sem contar os elementos da própria cultura popular, vindos de crenças repassadas de geração em geração”, observa o professor da UnB.

O fato de termos um longo histórico de curas religiosas e uso de ervas, por exemplo, até ajuda a explicar parte das preferências, mas, atualmente, grande parcela das práticas alternativas difundidas no país não são originais ou tradicionais. Vieram principalmente da Europa e dos EUA na esteira do movimento new age, corrente que buscou promover um saber místico sobre o mundo a partir dos anos 1970.

Alternativa oficializada

A institucionalização das terapias não convencionais envolve o reconhecimento de abordagens por conselhos profissionais — a homeopatia é uma especialidade avalizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) — e por leis e projetos de Estado, o que as tinge de um verniz ainda mais positivo. A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), criada em 2006 para incluir tratamentos complementares no SUS, hoje reúne 29 abordagens, algumas no mínimo questionáveis. Poucas de fato têm origem no “saber ancestral ou popular”. Há modalidades importadas, carentes de provas científicas e cercadas de controvérsias.

É o caso da constelação familiar, bolada por um alemão nos anos 1970 e criticada por fazer o indivíduo reviver traumas sem o devido suporte e por reforçar estereótipos familiares. E da quiropraxia, cujo inventor foi processado por charlatanismo e cujos terapeutas nem sempre têm formação adequada.

Verdade que essa política pública foi instituída com boas intenções. “A PNPIC foi uma luta dos grupos de médicos fitoterapeutas, acupunturistas e homeopatas e demais profissionais em defesa da inclusão no SUS de práticas que podem reduzir a medicalização, promover a saúde, reduzir o estresse e humanizar o cuidado”, diz a médica homeopata Henriqueta Sacramento, professora da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (ES), que atua junto à prefeitura da cidade na elaboração das diretrizes do programa.

A depender do município, o projeto engloba iniciativas como atividades em grupo, hortas comunitárias e o uso corrente da fitoterapia. E ninguém propõe que isso substitua o cuidado médico. O duro é que, em meio a tantas abordagens, costuma-se fechar os olhos a certos dilemas, como terapias cujos efeitos, negativos ou positivos, não foram medidos apropriadamente em pesquisas. Além disso, não existe um critério bem definido para determinar que práticas merecem ou não entrar na PNPIC. O método, portanto, contrasta com o que é estabelecido para remédios e intervenções médicas, que, após os estudos, passam pela Anvisa e por uma comissão de avaliação de incorporação de novas tecnologias do governo.

“As abordagens alternativas têm uma regulação frouxa e perigosa. Algumas coisas não exigem sequer formação em saúde, como o reiki, que não é olhado pelos ministérios da Saúde, da Educação ou do Trabalho”, aponta o antropólogo Rodrigo Toniol, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Toniol vê como problemática ainda a aproximação entre saúde pública e crenças em tratamentos que evocam a espiritualidade. “Há o argumento de que eles assistem a dimensão espiritual da saúde, por meio do lobby de diversos grupos, religiosos ou não, com seus interesses políticos e sociais. Cada onda quebra para um lado e todas dão na mesma praia: a legitimação desse discurso”, diz.

Não é que a espiritualidade deva ser encarada como algo irrelevante para a saúde ou deixada de ser explorada em estudos. Pesquisas constatam que uma assistência que acolha o indivíduo como um todo aumenta a resposta aos tratamentos. E alguns trabalhos indicam que indivíduos espiritualizados se cuidam mais e reagem melhor a doenças. Da mesma forma, práticas tradicionais de uma comunidade, como as indígenas, devem ser respeitadas pelos gestores públicos. O desafio é demarcar bem a linha entre o que deve ser incorporado num posto de saúde e o que deve ficar em outros departamentos. Sem esquecer que a tese alardeada de que a ciência não é suficiente para explicar ou determinar as coisas nessa área pode abrir caminho a confusões e retrocessos.

A PNPIC contempla hoje 29 abordagens. O Ministério da Saúde ressalta que ela não é uma diretriz ou um protocolo, apenas permite que estados e municípios gastem recursos que já receberiam normalmente. Se uma prefeitura quiser distribuir florais para confortar vítimas de tragédias e “prevenir doenças de enchentes”, como ocorreu em Brumadinho (MG) no início do ano, pode usar sua verba para isso. Em 2020, foram registradas mais de 1,3 milhão de sessões dessas práticas na rede pública do país.

Não temos nem 200 anos de medicina baseada em experimentos científicos, o método e a prática mais aceitos nos dias de hoje. Só com testes em diferentes etapas podemos garantir a eficácia e a segurança de uma intervenção, comparando grupos que receberam o tratamento com placebo ou outras terapias e, depois, submetendo os resultados ao escrutínio da comunidade acadêmica internacional.

Sem esse protocolo, apesar de eventuais limitações, não dá para bater o martelo para nada. “O apelo à tradição, à natureza e ao misticismo é uma falácia aplicada com frequência às medicinas alternativas”, afirma o médico Edzard Ernst, professor da Universidade de Exeter, na Inglaterra, e um dos principais críticos dessas práticas. Ele fala com conhecimento de causa: veio de uma família de homeopatas e fez uma série de pesquisas com essa e outras terapias, cujos resultados examinou em incontáveis artigos e livros. E conhecimento da história: sangria e arsênico foram usados por séculos como tratamentos e, no fim das contas, faziam mal aos pacientes. Para ele, a penetração da dita medicina alternativa na sociedade e na política indica que seu trabalho “está longe de terminar”. Em 2020, Ernst participou do lançamento de um manifesto global de mais de 3 mil estudiosos contra as pseudociências na saúde.

“Sejamos claros: elas matam”, sentencia o texto. Fugindo do “alternativo”, mas sem entrar no “convencional”, reaparece aquele conceito de medicina integrativa. “Esse cuidado integral e a busca por modalidades fora do mainstream são demandas crescentes dos pacientes. Portanto, a comunidade médica precisa estar atenta a isso”, justifica Perlman. Só que mesmo essa terminologia enfrenta críticas. “É um nome bonito, mas que não representa uma especialidade em si, ao menos não no Brasil. E, além disso, toda medicina já deveria ser integrativa e humana”, avalia Couri.

“A todo tratamento que funciona devemos chamar simplesmente medicina”, define Ernst. Diretrizes claras para testar e adotar qualquer tipo de terapia, clássica ou complementar, são uma demanda crucial. Mas uma discussão que deveria envolver toda a categoria, afogada em um sistema em que consultas não raro duram cinco minutos, não pode ficar relegada a uma nova especialidade e pronto, problema resolvido.

Ciência x pseudociência

À primeira vista, bastaria dizer que pseudociência é aquela teoria que passou pelo crivo dos testes rigorosos e foi descartada — ou não encontra sustentação à luz da ciência. Só que não é tão simples assim. “Teorias falsas também podem funcionar bem com dados empíricos”, nota o filósofo Cristiano Rezende, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG). A evidência empírica, obtida por meio de experimentos, não comprova uma hipótese, mas é suficiente para descartá-la — se sucessivos estudos concluem que algo não funciona, então a tese não faz sentido. Agora, mesmo se der certo em centenas de testes, a qualquer momento novas evidências podem invalidar o raciocínio. A diferença entre as duas visões está justamente na abertura à refutação. “Enquanto a ciência se assume como um êxito transitório e calcula margens de erro e ferramentas para coibir vieses, ciente de suas próprias deficiências, a pseudociência se blinda das críticas e se vende como algo infalível, que rejeita o que lhe é contrário”, delimita Rezende. É até por isso que o argumento de que a ciência não explica tudo faz sentido. “A defesa da ciência não pode levar a um totalitarismo que despreza outros tipos de saber, como a religião e a arte, mas é preciso ter claro o papel que cada um deles desempenha na sociedade”, afirma o filósofo. Ou seja, não dá para uma intuição, convicção ou crença nortear um tratamento médico ou uma política de saúde.

A certeza da incerteza é um dos aspectos mais desafiadores do meio científico — inclusive por causa do nosso modus operandi cognitivo. Para complicar, a dúvida também é explorada pelo outro lado, não como motivo para seguir buscando conhecimento, mas para fomentar o medo de que há uma conspiração contra as pessoas “comuns”. Aliás, foi essa linha de pensamento que permitiu que empresas e profissionais lucrassem vendendo remédios ineficazes contra a Covid-19. Parecem tópicos distantes entre si, mas não são. O deputado federal Giovani Cherini (PDT/RS), que desde 2004 organiza o Encontro Holístico Brasileiro, se manifestou várias vezes em favor da cloroquina. Maria Emília Gadelha Serra, presidente da Sociedade Brasileira de Ozonioterapia Médica, é uma das principais articuladoras do movimento antivacina.

Talvez a situação dramática da pandemia seja a oportunidade para repensar nossas crenças sobre saúde e quanto deixamos o pensamento mágico influenciar as decisões que tomamos em relação a ela. Essa mudança pode salvar vidas e economizar dinheiro, mas não é fácil. “Não é só a dificuldade de romper com um pensamento, mas de perder todos os benefícios psicológicos ligados à fantasia de controle que o ser humano tem para aplacar a fragilidade da existência”, resume Rezende.

Valorizar práticas de povos tradicionais não quer dizer apostar em um curandeiro para eliminar doenças, mas ter uma visão mais inclusiva sobre fatores sociais e culturais que são importantes para a saúde de uma comunidade. “Quando atuei em regiões indígenas, sempre dizia que os pacientes podiam ser benzidos pelo pajé, desde que não deixassem de tomar seus remédios”, conta Melkides Diniz, médico de família da etnia baré, que cresceu no Amazonas e hoje vive em São Paulo. Ler mais

Outubro Rosa 2022 – Eu cuido da minha saúde todos os dias. E você?

Outubro Rosa 2022 – Eu cuido da minha saúde todos os dias. E você?

O movimento internacional de conscientização para a detecção precoce do câncer de mama, Outubro Rosa, foi criado no início da década de 1990, quando o símbolo da prevenção ao câncer de mama — o laço cor-de-rosa — foi lançado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure e distribuído aos participantes da primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova York (EUA) e, desde então, promovida anualmente.

O período é celebrado no Brasil e no exterior com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre o câncer de mama, a fim de contribuir para a redução da incidência e da mortalidade pela doença.

O objetivo do Outubro Rosa 2022 é divulgar informações sobre o câncer de mama e fortalecer as recomendações do Ministério da Saúde para prevenção, diagnóstico precoce e rastreamento da doença.

O câncer de mama

O câncer de mama é o tipo que mais acomete mulheres em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos. Cerca de 2,3 milhões de casos novos foram estimados para o ano de 2020 em todo o mundo, o que representa cerca de 24,5% de todos os tipos de neoplasias diagnosticadas nas mulheres. As taxas de incidência variam entre as diferentes regiões do planeta, com as maiores taxas nos países desenvolvidos.

Para o Brasil, foram estimados 66.280 casos novos de câncer de mama em 2021, com um risco estimado de 61,61 casos a cada 100 mil mulheres. O câncer de mama também ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer entre as mulheres no Brasil, com taxa de mortalidade ajustada por idade, pela população mundial, para 2019, de 14,23/100 mil. As maiores taxas de incidência e de mortalidade estão nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.

Os principais sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama são: caroço (nódulo), geralmente endurecido, fixo e indolor; pele da mama avermelhada ou parecida com casca de laranja, alterações no bico do peito (mamilo) e saída espontânea de líquido de um dos mamilos. Também podem aparecer pequenos nódulos no pescoço ou na região embaixo dos braços (axilas).

Fatores de risco

Não há uma causa única para o câncer de mama. Diversos fatores estão relacionados ao desenvolvimento da doença entre as mulheres, como: envelhecimento, determinantes relacionados à vida reprodutiva da mulher, histórico familiar de câncer de mama, consumo de álcool, excesso de peso, atividade física insuficiente e exposição à radiação ionizante.

Os principais fatores são:

Comportamentais/Ambientais
Obesidade e sobrepeso, após a menopausa;
Atividade física insuficiente (menos de 150 minutos de atividade física moderada por semana);
Consumo de bebida alcoólica;
Exposição frequente a radiações ionizantes (Raios-X, tomografia computadorizada, mamografia etc.);
História de tratamento prévio com radioterapia no tórax;
Aspectos da vida reprodutiva/hormonais;
Primeira menstruação (menarca) antes de 12 anos;
Não ter filhos;
Primeira gravidez após os 30 anos;
Parar de menstruar (menopausa) após os 55 anos;
Uso de contraceptivos hormonais (estrogênio-progesterona);
Ter feito terapia de reposição hormonal (estrogênio-progesterona), principalmente por mais de cinco anos.

Hereditários/Genéticos
Histórico familiar de câncer de ovário; de câncer de mama em mulheres, principalmente antes dos 50 anos; e caso de câncer de mama em homens;
Alteração genética, especialmente nos genes BRCA1 e BRCA2.

A mulher que possui esses fatores genéticos tem risco elevado para câncer de mama.

Fonte: Inca Ler mais

Dia Nacional do Idoso e Dia Internacional da Terceira Idade – um movimento pela igualdade

A demografia do mundo está se transformando de maneira irreversível: as populações estão cada vez mais idosas em todos os países por meio de um movimento único causado pela taxa de fertilidade menor e o aumento da proporção de pessoas com mais de 60 anos – pessoas idosas devem somar mais de 20% da população mundial em 2050. Pessoas com mais de 80 anos serão quase 400 milhões.

Movimentos sociais como a Agenda 2030 e o Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) reconheceram que a inclusão de todas as idades no desenvolvimento social é uma necessidade não só para as pessoas idosas, como para a cadeia produtiva como um todo. É preciso reduzir a desigualdade etária por meio da criação de medidas que gerem oportunidades, inclusão social, política e econômica de todas as idades.

Essa necessidade de torna mais urgente quando pensamos que, em 2030, o número de pessoas idosas vai superar o de crianças e adolescentes até 14 anos, uma vez que, em 70 anos, adicionou-se três décadas à expectativa de vida do brasileiro (de 45 para 75 anos). Isso impacta de maneira importante áreas como a saúde e a previdência social. Para promover a discussão sobre o tema e garantir direitos básicos a essa população, 1º de outubro de 2003, foi aprovada a Lei nº 10.741 – o Estatuto do Idoso -, prevendo em seu artigo 2º que, ao cidadão idoso sejam garantidas todas as oportunidades e facilidades para a preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.

Por isso se comemora, nessa data, o Dia Nacional da Pessoa Idosa, cujos principais objetivos são chamar a atenção para a existência de desigualdades, geralmente como resultado de uma acumulação de desvantagens ao longo da vida; aproveitar as experiências e o aprendizado ao longo da vida dos cidadãos da chamada terceira idade criando políticas proativas e adaptativas de trabalho, promovendo proteção social e dando acesso à cobertura universal de saúde; e refletir sobre as melhores práticas, lições e progressos para mudar as narrativas e estereótipos negativos que envolvem a velhice. Ler mais

Avanços no combate ao Alzheimer

Pesquisadores da Universidade de Tuebingen, na Alemanha, descobriram que uma proteína encontrada no sangue pode ser utilizada para prever se um paciente terá Alzheimer até 16 anos antes do início dos sintomas. O estudo foi publicado na revista Nature.

Trata-se de uma proteína chamada neurofilamento de cadeia leve (NFL, na sigla em inglês) que funciona como um marcador no sangue que dá uma indicação de perda de células nervosas no cérebro. Essa proteína se acumula no sangue das pessoas muito antes da doença se manifestar, provocando danos cerebrais e outras doenças, como esclerose múltipla.

Durante o trabalho científico, os cientistas mediram a taxa de mudança de NFL em 405 voluntários que eram portadores de uma mutação genética herdada dos pais. Todos passaram por exames de sangue, imagens do cérebro e testes cognitivos. Ao analisar os resultados, os cientistas verificaram que os pacientes que apresentaram um erro genético possuíam uma concentração elevada da proteína e que ela aumentava ao passar dos anos. Já as pessoas com um gene regular, tinham níveis baixos e estáveis da mesma proteína.

Segundo o especialista, níveis mais altos de neurofilamento indicam danos cerebrais, mas isso também pode ser provocado por lesões cerebrais causadas por um acidente, por exemplo.

Já nos Estados Unidos, outro grupo de pesquisadores desenvolveu um novo exame de sangue que pode determinar se uma pessoa é propensa a desenvolver o mal de Alzheimer igualmente até 16 anos antes que os sintomas apareçam. O teste foi criado na Escola de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis, Missouri, com base no nível de uma proteína específica no sangue, chamada de mudança de luz do neurofilamento (NLC, na sigla em inglês), que faz parte da estrutura interna das células nervosas.

Segundo os pesquisadores, se as células nervosas forem danificadas, a proteína vaza para o líquido cefalorraquidiano – fluido aquoso que envolve o cérebro e a medula espinhal – e depois para o sangue. A detecção de altos níveis de NLC no líquido cefalorraquidiano é um bom indicador dos danos às células cerebrais.

Para realizar o experimento, a equipe recrutou parentes com variantes genéticas raras que causam o desenvolvimento de Alzheimer, entre 30 e 50 anos. Isso permitiu procurar por mudanças físicas que possam ocorrer antes de quaisquer sintomas. Foram analisadas 247 pessoas que carregavam uma variante genética precoce para Alzheimer e 162 pessoas que não tinham essa variação. Os portadores da variante precoce apresentaram níveis elevados de NLC no sangue, sendo que a quantidade aumentou com a idade. Em comparação, os níveis da proteína permaneceram baixos nas pessoas que tinham a variação genética saudável.

Os pesquisadores também estudaram exames cerebrais dos participantes. Eles descobriram que, à medida que os níveis de NLC aumentavam, uma parte do cérebro relacionada à memória (precuneus) começava a diminuir.

Taxas crescentes de NLC foram detectáveis até 16 anos antes que os sintomas pudessem se desenvolver. As pessoas com níveis da proteína em ascensão eram mais propensas a mostrar sinais de declínio cognitivo e degeneração das células do cérebro dois anos depois.

No entanto, o estudo tem limitações: os cientistas analisaram apenas pessoas geneticamente predispostas à doença de Alzheimer, grupo que representa apenas 1% dos pacientes. “Não estamos no ponto em que podemos dizer às pessoas: ‘em cinco anos você terá demência’, mas estamos trabalhando para isso“, afirmou Brian Gordon, co-autor da análise.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a estimativa é que 65 milhões de pessoas desenvolvam a doença em 2030 e assustadores 115 milhões em 2050. Ler mais

Como prevenir anemia e fraqueza muscular

Como prevenir anemia e fraqueza muscular

A anemia é uma condição caracterizada pela queda no conteúdo de hemoglobina, o pigmento que dá cor aos glóbulos vermelhos no sangue. Isso pode ocorrer pela carência de um ou mais nutrientes essenciais, como ferro (de longe o mais comum), zinco, vitamina B12 e proteínas. Também pode ser consequência da perda de sangue ou de diferentes doenças ou condições adquiridas ou hereditárias.

Os glóbulos vermelhos, também chamados de hemácias ou eritrócitos, têm a nobre função de transportar oxigênio dos pulmões para todas as células do corpo. Daí que, com pouca hemoglobina, todo o organismo fica deficitário, embora o sofrimento seja mais pronunciado para músculos, coração e sistema nervoso central.
A queda de hemoglobina no sangue pode ser aguda, quando há perda de sangue ou destruição de glóbulos vermelhos por alguma doença, ou pode ser crônica, o que ocorre lentamente e pode ter várias causas.
Prevalência
A anemia é um problema extremamente comum. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), 30% da população mundial é anêmica, em especial crianças abaixo de 2 anos e mulheres de diferentes faixas etárias, embora também possa ocorrer em homens e idosos. Além disso, estima-se que de 27% a 50% da população seja afetada pela deficiência de ferro, principalmente em populações com menor renda e desenvolvimento.
No Brasil, os dados variam de acordo com o estudo e o grupo populacional analisado. Mas, de modo geral, estima-se que 40% a 50% das crianças tenham anemia.
Tipos de anemia
1. Anemias por carências nutricionais
– Anemia ferropriva Causada pela deficiência de ferro, representa cerca de 90% de todos os casos de anemia. É que esse mineral, presente em carnes, leguminosas e vegetais verde-escuros, atua na fabricação de células vermelhas e no transporte de oxigênio. A cor vermelha do sangue, por sinal, se deve à reação química que acontece entre o oxigênio e o ferro contidos na hemoblobina. Esse tipo de anemia pode ocorrer devido à má absorção do mineral, restrições alimentares ou por hemorragias.
– Anemia megaloblástica Provocada pela carência de vitamina B12 e ácido fólico, importantes para o sistema nervoso. A falta de B12, encontrada em alimentos de origem animal, pode ocorrer devido a restrições na dieta ou por alterações intestinais que impedem sua absorção —como as doenças de Crohn ou celíaca, a proliferação anormal de bactérias ou a cirurgia da obesidade. Muitas vezes, a deficiência ocorre pela ausência de uma proteína secretada no estômago que se chama “fator intrínseco” e nesse caso é chamada de anemia perniciosa. A condição pode estar ligada a características hereditárias ou reações autoimunes. A deficiência de ácido fólico (ou folato), presente em frutas e vegetais com folhas verdes, também pode ser ligada a restrições na dieta, doenças intestinais, cirurgia de obesidade ou uso de álcool ou certos medicamentos, entre outros motivos. Sua demanda aumenta bastante na gravidez e amamentação, por isso a suplementação é indicada nessa fase.
2. Anemia provocada por perdas sanguíneas
O quadro é provocado pela perda crônica ou aguda de sangue em situações diversas, como período menstrual, verminoses, cirurgias, ferimentos hemorrágicos, sangramentos gastrointestinais (muitas vezes imperceptíveis), entre outras.
3. Anemia provocada por doenças
– Anemia ou doença falciforme Condição genética que leva a uma mudança no formato das células vermelhas, que assumem a forma de foice e perdem flexibilidade. Com isso, elas tendem a morrer mais rapidamente, gerando um quadro frequente de anemia e crises dolorosas. É uma das doenças hereditárias mais comuns no Brasil, devido à presença de afrodescendentes.
– Talassemia É outra doença genética que causa anemia crônica, devido à produção diminuída de um tipo de cadeia que forma a molécula de hemoglobina. A condição faz parte de um grupo de doenças do sangue (hemoglobinopatias) e pode provocar problemas ósseos, crescimento inadequado e aumento do baço e do fígado.
– Doenças da medula óssea Leucemias e tumores na medula podem ocasionar anemias frequentes.
– Anemia aplástica Doença rara da medula óssea caracterizada pela produção insuficiente não só de glóbulos vermelhos, mas também de glóbulos brancos e plaquetas, que pode ter causas diversas, como infecções, condições autoimunes e até pela exposição a produtos químicos.
– Anemia hemolítica Neste caso, os glóbulos vermelhos são destruídos mais rapidamente do que deveriam, e a medula óssea não consegue repô-los.
Outras doenças Outras enfermidades crônicas podem causar anemia, como a doença renal ou hepática, doenças reumatológicas e câncer, entre outras, porque a inflamação altera o metabolismo de ferro e a produção de glóbulos vermelhos diminui.
Perfis de risco
Mulheres em idade fértil, por causa da menstruação (aquelas que possuem fluxo intenso ou miomas podem ser mais propensas a ter anemia pela perda de sangue)
Gestantes ou em fase de amamentação
Crianças durante períodos de crescimento
Adolescentes em fase de crescimento
Idosos (que tenham a alimentação prejudicada por doenças ou dificuldades de mastigação, por exemplo)
Pacientes submetidos à cirurgia da obesidade
Indivíduos com doenças que causam perda sanguínea
Indivíduos que seguem dietas restritivas ou desbalanceadas (como pessoas com transtornos alimentares, veganos que não suplementam a vitamina B12, populações de baixa renda etc.)
Indivíduos com doenças crônicas, como câncer, doença renal ou hepática, alterações da tireoide, doença inflamatória intestinal (como Crohn ou colite ulcerativa), artrite reumatoide e outras condições autoimunes (que podem afetar os glóbulos vermelhos ou envolver tratamentos que tenham esse efeito colateral)
Sintomas de anemia
Os sintomas da anemia são inespecíficos, por isso às vezes podem ser confundidos com outras doenças. Veja algumas manifestações possíveis:
Cansaço generalizado
Falta de apetite
Palidez de pele e mucosas (parte interna dos olhos e gengivas)
Tontura
Falta de ar
Coração acelerado
Dor de cabeça
Mãos e pés frios
Dor no peito
Desejo de comer coisas estranhas, como terra, tijolo ou gelo
Algumas pessoas com anemia leve podem até não apresentar qualquer sinal e descobrir a condição numa consulta de rotina. Quanto aos níveis de hemoglobina ainda não estão muito baixos, sinais como cansaço e palpitações podem aparecer somente se a pessoa realiza algum esforço. Já nos casos mais intensos as manifestações aparecem mesmo em repouso.
Possíveis consequências da anemia ferropriva
Comprometimento do sistema imune, com aumento da predisposição a infecções
Aumento do risco de doenças e mortalidade de mães e recém-nascidos
Redução do crescimento, desenvolvimento neuropsicomotor e dificuldades de aprendizagem das crianças
Redução da produtividade em adultos
Diagnóstico
A partir da conversa com o paciente, análise do histórico médico e familiar e exame físico, o médico deve solicitar um exame de sangue com realização de hemograma, que permite identificar a quantidade de glóbulos vermelhos e avaliar seu formato, o que já ajuda a estabelecer possíveis causas. Outros exames podem ser solicitados para determinar outras possíveis causas, como dosagem de ferro e vitamina B12, entre outros.
Valores de referência
Os valores para concentração de hemoglobina considerados normais são de:
13 g/dL para homens
12 g/dL para mulheres
11 g/dL para gestantes e crianças entre 6 meses e 6 anos
Como tratar a anemia
Quando a anemia é causada por carência de nutrientes, eles são repostos por meio de suplementos (como sulfato ferroso, vitamina B12 e folato) e correção da dieta. Doenças que provocam perda de sangue terão tratamento específico, bem como as que afetam diretamente a produção de glóbulos vermelhos.
Condições autoimunes demandam uso de imunossupressores, mulheres com fluxo menstrual intenso podem ser orientadas a adotar métodos contraceptivos e portadores de anemias hereditárias devem ser acompanhados para eventuais reposições de sangue e suplementação, para citar alguns exemplos.
Como deve ser a dieta de quem tem anemia?
As recomendações dietéticas dependem da causa da anemia. Na mais comum, a ferropriva, é sugerido o consumo de carnes vermelhas, vísceras (fígado, coração e miúdos), aves, peixe, carne suína, leguminosas (como feijão e lentilha) e hortaliças verde-escuras. Alguns alimentos industrializados são enriquecidos com ferro (como leite e as farinhas de trigo e milho), com o objetivo de minimizar o problema.
Alimentos de origem animal são as únicas fontes de vitamina B12, por isso veganos devem receber a suplementação. Já o ácido fólico é encontrado em alimentos como espinafre e outras folhas verde-escuras, feijão branco, aspargos, soja e derivados, laranja, melão e maçã.
Ferro heme e não heme
Existem dois tipos de ferro nos alimentos: o heme está presente nas carnes e subprodutos e é melhor aproveitado pelo organismo. O ferro não heme é encontrado nos alimentos de origem vegetal, e sua absorção depende de alguns fatores, como a ingestão (na mesma refeição) de alimentos ricos em vitamina C e A. Deve-se evitar, também, o consumo de chá, lácteos ou café na refeição rica em ferro, pois esses itens dificultam sua absorção.
Como prevenir a anemia
– Procure ter uma alimentação balanceada e variada, rica em frutas, legumes, verduras, cereais integrais, leguminosas, leite, carnes e ovos. Veganos devem ter acompanhamento nutricional para evitar carências de ferro e vitamina B12.
– Ao consumir fontes vegetais de ferro (como feijão e lentilha), consuma junto alguma fonte de vitamina C, como laranja, para otimizar a absorção do mineral.
– Evite o excesso de álcool, que também pode levar à anemia.
– Não exagere no consumo de medicamentos com ácido acetilsalicílico, que podem causar sangramentos gastrointestinais.
– Mulheres com fluxos menstruais intensos devem ter acompanhamento médico periódico para monitorar os níveis de hemoglobina.

Fontes: Uol/ Alex Freire Sandes, hematologista do Fleury Medicina e Saúde; Elisabete Rocha, nutricionista do Centro Terapêutico Equilybrium; American Society of Hematology; Ministério da Saúde Ler mais