Por Rubens Faria

Nada é tão certo na vida quanto o envelhecimento. Contudo, para as mulheres, envelhecer é um processo de resistência. Resistência às pressões sociais que valorizam a juventude e culpabilizam o corpo fora do padrão. Resistência aos aspectos fisiológicos do envelhecimento, que por vezes acometem mais às mulheres do que aos homens. Resistência à imposição dos papéis familiares que, durante muitas décadas, enquadraram a mulher exclusivamente em seus aspectos reprodutivos, tendo como centralidade de sua vida o lar e os cuidados com os membros da família.

“Atualmente, as mulheres idosas continuam dando suporte à família, por serem muitas vezes as provedoras por meio da aposentadoria, pensão ou benefícios. Com o aumento da expectativa de vida, mais mulheres acima dos 60 anos se tornaram cuidadoras de seus pais, também idosos. Além disso, ajudam a cuidar dos netos ou a fazer os serviços domésticos para os filhos”, afirma a presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Dra. Ivete Berkenbrock.

Ana Amélia Camarano, coordenadora de Estudos e Pesquisas de Igualdade de Gênero, Raça e Gerações, da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), salienta que envelhecer é questão de gênero: “Além de termos mais mulheres idosas do que homens, as mulheres cuidam de seus maridos e depois não tem ninguém para cuidar delas. Elas são as principais cuidadoras, mas também são as que demandam mais cuidados, são mais sujeitas a hipertensão, a problemas de artrite e artrose, depressão etc”.

Uma forma relevante de suporte a essas mulheres são as chamadas redes de apoio, compostas, em muitos casos, por familiares. “Ter uma rede de apoio não apenas às necessidades físicas ou financeiras, mas principalmente emocionais. Ter pessoas com quem possa conversar, que escutem, orientem, com as quais a mulher possa trocar. Essa rede será resultado do que chamamos de reserva afeita, ou seja, daquelas relações que construímos ao longo da vida”, explica Ivete.

Entretanto, a pandemia de Covid-19 pode ter afetado as relações dessas mulheres com sua rede de apoio. “Apesar de ainda estar alto, houve uma diminuição no índice de mortalidade por Covid-19 entre idosos e as mulheres são as que estão sobrevivendo mais. O que pouco se fala é que a gente não sabe como serão as sequelas das pessoas que apresentaram quadro grave da doença, assim como não sabemos o impacto que o confinamento deixou nas pessoas idosas (crise de ansiedade, depressão, falta de exercício físico, etc). Portanto, a demanda por serviços de saúde tende a aumentar. Não apenas a procura por médicos, mas por fisioterapeuta, psicólogo etc”.

Ivete ainda acrescenta a importância de políticas públicas que garantam suporte às mulheres idosas. “É de suma importância que possamos trazer à tona pautas direcionadas aos direitos sociais da população idosa, em especial aos da mulher idosa. Que tenhamos um olhar mais atento a esse público que executa um papel social importante e que muitas vezes é invisibilizado”.

Fonte: SBGG

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