Por Rubens Faria
Aqui no Brasil, desde a década de 1990 que a tecnologia muda a forma como interagimos com o mundo por meio da internet. De lá para cá, foram muitos os avanços relacionados aos meios de conexão, dispositivos e programas. Esses avanços são essenciais para acompanharmos as necessidades de uma sociedade com sede de conteúdo, mas a inclusão digital hoje é voltada para uma classe privilegiada, e não para todos os interessados.
É o que demonstra uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), de autoria da terapeuta ocupacional Taiuani Raymundo. Ela tenta entender a relação entre a rejeição dos atuais aparelhos de comunicação e como isso influencia na aceitação dessas ferramentas pelas pessoas idosas. Saber em que medida isso acontece é o primeiro passo para tentar aproximar os dois.
O estudo, conduzido com 100 pessoas com mais de 65 anos escolhidos ao acaso, se muniu de metodologia consagrada de avaliação por meio de questionários e teve três conclusões principais. Confira a seguir.
Dispositivos não inclusivos
A despeito das pessoas idosas aceitarem a tecnologia, conforme mostra o estudo, isso não é o suficiente para que elas a utilizem em sua plenitude.
Não basta boa vontade em aprender se as telas, botões e letras pequenas não foram pensados para quem tem ou está desenvolvendo limitações características da idade avançada. Como essa população teve sua inclusão digital mais tarde na vida, é difícil se adaptar aos padrões minimalistas e estrangeirismos dos dispositivos pessoais, como smartphones ou tablets. De acordo com Taiuani “as tecnologias surgiram na vida dos idosos de hoje quando estes já eram adultos ou até mesmo velhos, e isto influencia no enfrentamento das dificuldades”.
Medo da tecnologia
A tecnofobia, termo cunhado no final do século XX para designar medo irracional ou exagerado de tecnologia e seus dispositivos, foi outro motivo levantado no estudo que afasta pessoas idosas da inclusão digital.
Os motivos dos medos dos entrevistados são vastos, mas são principalmente relacionados ao uso da internet, como medo de vírus e redes sociais. Além disso, estão presentes medo de quebrar ou queimar o aparelho, de não saber utilizar a máquina, de errar e das consequências dos seus erros. O medo de utilizar programas e apagar documentos de outras pessoas, de não memorizar as funções e não saberem como usá-los também foram registrados.
Contudo, mesmo que a tecnofobia esteja presente, isso não impediu os entrevistados de aprender novas abordagens para lidar com o medo. “Eles apresentam medo e resistência ao novo, mas também pude notar que se sentem motivados e interessados em aprender a se tornarem independentes em tarefas associadas à tecnologia”, comenta Taiuani.
Iniciativas de inclusão digital
O estudo não avaliou apenas a adesão de pessoas idosas a smartphones, tablets e computadores. A pesquisa notou dificuldades no uso até de tecnologias mais essenciais, como controles remotos, utilidades domésticas e equipamentos de saúde, o que deixa mais evidente a necessidade de iniciativas para inclusão digital de pessoas idosas.
Diferentemente das crianças e jovens adultos que se desenvolveram com a tecnologia como aliada, esse público precisa de estímulo e instrumentalização para lidar com os diferentes hardwares e softwares que transformaram positivamente nossa vida nas últimas décadas. Para Taiuani, “é preciso que pesquisadores e a população como um todo se conscientizem da importância de os idosos lidarem com as tecnologias e de se tornarem independentes em suas atividades com tais dispositivos, garantindo a estes sujeitos autoconfiança e uma melhor qualidade de vida”.