Por Rubens Faria

Este ano, comemoramos os 99 anos da Semana de Arte Moderna, evento que ocorreu na São Paulo de 1922 entre os dias 11 e 18 de fevereiro.

Idealizada pelas famílias quatrocentonas, oligarquias cafeeiras que representavam a elite conservadora da época, e patrocinada pelo então governador do estado, Washington Luís, a Semana de Arte Moderna trouxe à superfície os conflitos políticos e sociais por meio do debate sobre a influência dos padrões estéticos europeus mais tradicionais e as novas linguagens desprovidas de regras.

O modernismo brasileiro, representado por artistas de peso como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor Brecheret, Plínio Salgado, Anita Malfatti, Menotti Del Picchia, Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos,Tácito de Almeida e Di Cavalcanti, trouxe ao evento pintura, escultura, poesia, literatura e música, marcando o início do movimento no Brasil e influenciando o cenário cultural dos séculos XX e XXI.

Quase centenária, a Semana de Arte Moderna ainda influencia movimentos artísticos por conta de seu caráter vanguardista. Se hoje contamos com a fotografia para retratar a realidade como ela é, o modernismo retrata a realidade como ela pode ser, além do óbvio.

Pensando nesses recortes, convidamos vocês a conhecer os artistas brasileiros 60+ que beberam direto da fonte da Semana de 22 e hoje têm suas obras consagradas. Confiram!

Beatriz Milhazes

Sua obra artística mescla elementos da pop art e foca principalmente na pintura, colagem, serigrafia e gravura. Tem referências do artesanato e do universo feminino. Além das artes plásticas, Beatriz Milhazes tem trabalhos de cenografia e projetos gráficos para jornais e revistas.

O recorde da obra mais cara de uma artista brasileira viva é dela. A tela Meu Limão (2000) foi vendida em 2012 pelo equivalente a 4,5 milhões de dólares hoje.

Meu Limão (2000), de Beatriz Milhazes

Dalton Trevisan

O escritor curitibano trabalhou com nomes importantes do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade, Di Cavalcanti e Drummond de Andrade.

É conhecido pelo perfil reservado, não dá entrevistas e envia representantes para participar de cerimônias e premiações, motivo pelo qual ganhou o apelido de Vampiro de Curitiba, nome de um de seus livros. Criou personagens e situações de significado universal, em que as tramas psicológicas e os costumes são recriados por meio de uma linguagem concisa e popular, que valoriza os incidentes do cotidiano sofrido e angustiante.

Em 2012, ganhou o Prêmio Camões e o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra.

Capa do livro de Dalton Trevisan, ilustrada pelo desenhista Poty Lazzarotto

Laerte Coutinho

Figura desbravadora no panorama cultural brasileiro, é uma grande crítica do poder vigente e, por isso, alvo constante da censura dos governantes. A cartunista se utiliza do humor para contestar o senso comum e protagonizar as ironias do dia a dia brasileiro.

Entre suas personagens, destacam-se um Deus não onipotente, a crossdresser Hugo (Muriel), que brinca com padrões de gênero, e os Piratas do Tietê, que trocaram o mar pelo rio que corta a capital de São Paulo.

A cartunista e chargista Laerte Coutinho

Sebastião Salgado

O fotógrafo mineiro sempre se colocou na contramão dos retratos do mundo. Com um olhar singular, fotografou o fenômeno mundial do êxodo de refugiados, a luta contra a seca do norte da África, o trabalho essencial de trabalhadores rurais em todo o mundo e as condições insalubres do garimpo na Serra Pelada.

Com seu trabalho fotojornalístico embalado em intensa poesia, Sebastião Salgado contribuiu generosamente com organizações humanitárias incluindo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, (ACNUR), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ONG Médicos sem Fronteiras e a Anistia Internacional. Com sua esposa, Lélia Wanick Salgado, apoia atualmente um projeto de reflorestamento e revitalização comunitária em Minas Gerais.

Sebastião Salgado é internacionalmente aclamado e recebeu praticamente todos os principais prêmios de fotografia do mundo como reconhecimento por seu trabalho.

Retrato da exploração mineral na Serra Pelada por Sebastião Salgado

Fernando Meirelles 

Respeitado mundialmente, o cineasta Fernando Meirelles se opõe ao cinema de entretenimento. Logo em seu segundo filme, a comédia As Domésticas (2001), trouxe à luz os privilégios de raça, a luta de classes, diferenças sociais impostas pelo gênero etc. Não foi diferente em suas obras seguintes, como Cidade de Deus, Cidade dos Homens e Xingu, sempre representando o lado menos privilegiado e sensível da sociedade.

Dirigiu atores consagrados como Anthony Hopkins, Gael García Bernal, Alice Braga, Julianne Moore, Vincent Cassel, Jonathan Pryce e Rodrigo Santoro.

Cartaz do filme de Fernando Meirelles que ilustra a crítica social à frente do seu tempo

Caetano Veloso

A obra de Caetano Veloso se destaca pela releitura e renovação do cenário contemporâneo. Sua obra artística se desdobra por meio da contracultura na música, poesia e literatura, sendo considerado por muitos um artista pós-moderno. 

É um dos artistas brasileiros mais influentes desde a década de 1960. Em 2004, foi consagrado como um dos mais respeitados e produtivos músicos do mundo por suas contribuições universais nas belas artes, pela elevação da música popular brasileira internacionalmente e por estar ao lado dos melhores compositores do século XX, como Bob Dylan, Bob Marley, John Lennon e Paul McCartney.

Caetano e a Banda Cê, formada pela nova geração da família Veloso

Maria Martins

Maria Martins foi a surrealista brasileira mais influente do mundo, ao lado de Frida Kahlo, Salvador Dalí e Pablo Picasso. Suas obras mais conhecidas são as esculturas, mas já se aventurou no desenho, gravura, pintura, música e literatura. É a única da lista que já nos deixou, mas não poderia ficar de fora dada sua importância nos cenários modernista e pós-modernista relatados neste texto.

Mineira, filha da velha república que financiou a Semana de 22, suas obras encontram-se nos museus de arte moderna mais importantes do globo.

O Impossível (1945), obra vanguardista da multiartista mineira

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