Por Gabriela Guimarães, psicóloga, e Joel Rennó, psiquiatra
Edição de Rubens Faria
Os quadros de depressão no fim de ano são muito comuns e podem aparecer, particularmente, entre pessoas que têm vulnerabilidade para aceitar mudanças no ritmo e nas circunstâncias de vida do ser humano. Há vários contextos e situações de vida que incidem neste período e que funcionam como gatilhos estressores.
Memórias antigas negativas, lutos e feridas psicológicas ainda latentes e dolorosas podem contribuir para a depressão nesse período.
É comum que em determinadas épocas do ano, as pessoas reajam de maneira diferente em consequência aos determinados estímulos de estações do ano, épocas comemorativas, férias, bem como fim e início de ano. Muitas vezes sentem-se eufóricas, cheias de esperança; mas, em outras, ficam mais recolhidas e pensativas, com o humor deprimido, sentem dificuldade de sair da cama ou aumentam o consumo de carboidratos (alimentos precursores de serotonina).
Outro sintoma comum costuma ser a falta de motivação para realizar as funções básicas do dia a dia. Muitas pessoas não se sentem felizes com o advento do Natal e do Ano Novo e sua tristeza, contextual e localizada, a faz sentir culpada por não conseguir achar graça em comemorar algo que todos estão comemorando.
Banalização
Muitos profissionais não acreditam que esses sintomas são motivos para procurar um médico, pois consideram que “a pessoa está tristinha” e “um pouquinho desanimada”. A questão é: Quem se responsabiliza pelas proporções que esse estado de desânimo pode chegar? Como nós, profissionais da área da saúde mental, podemos qualificar e banalizar sentimentos das pessoas? Como autorizar aquele que sofre a deixar de lado seu sentimento, legitimando sua tristeza como “menor” ou “não tão grave”?
É muito importante que a depressão, não só a de fim de ano, seja diagnosticada e orientada por profissionais das áreas competentes e responsáveis. Justificar como sendo comum ficar triste no Natal ou no fim de ano é o mesmo que abandonar ao mero acaso tal sofrimento, sendo que a medicina e a psicologia, atualmente, possuem recursos com poucos efeitos colaterais e eficazes para tratar casos específicos e contextuais.
Sentimentos de depressão podem ser altamente danosos à saúde
Os sintomas de depressão podem ser altamente danosos à saúde. Um exemplo é o fato do consumo ou da compulsão por carboidratos, açúcares e álcool que, além do aumento de peso, traz consigo problemas cardíacos, risco de diabetes, dependência e outras doenças, além do comportamento distorcido de que tais ações tranquilizam e minimizam a dor.
Caso você tenha qualquer sintoma melancólico ou depressivo, procure ajuda médica, pois quanto antes seu diagnóstico for detectado, mais rápido será o tratamento e, consequentemente, o alívio do sintoma.
Como reconhecer a depressão: 15 sintomas mais comuns
1º) Pessimismo;2º) Dificuldade de tomar decisões;
3º) Dificuldade para começar a fazer suas tarefas;
4º) Irritabilidade ou impaciência;
5º) Inquietação;
6º) Desejo de morrer;
7º) Chorar por qualquer motivo;
8º) Dificuldade de terminar coisas que começou;
9º) Sentimento de pena de si mesmo;
10º) Persistência de pensamentos negativos;
11º) Queixas frequentes;
12º) Sentimentos de culpa injustificáveis;
13º) Perda ou aumento de peso e apetite;
14º) Insônia;
15º) Perda ou diminuição do desejo sexual.
Mesmo aqueles que não se sentem deprimidos, aproveitem o final de ano para fazer um balanço de tudo o que aconteceu, e fazer novos projetos, estabelecendo novas metas.
Para muitos, datas como Natal e Ano Novo lembram família
Perdas e mortes, separações, luto e saudade podem favorecer, em indivíduos vulneráveis, o surgimento de um quadro depressivo. Sua intensidade varia de acordo com cada pessoa.
A imagem de propagandas e programas de TV com pessoas extremamente felizes festejando o Natal e o Réveillon levam alguns a acreditar na alegria de todos, menos na sua.
É o momento em que muitos dizem: “É o primeiro Natal sem o meu pai” ou “Mais um ano sem conseguir comprar uma casa melhor”. Estresse agrava o quadro Para piorar, a verdadeira maratona atrás de presentes, preparativos e as inúmeras confraternizações – muitas delas reunindo pessoas com as quais não temos um vínculo real — aumenta o nível de estresse no período, em até 75%, segundo dados da International Stress Management Association (ISMA Brasil). Outro fator que pesa, e que pode agravar a insatisfação e a frustração, é a preocupação com a vida financeira, já que é comum gastar sem planejamento nos últimos meses do ano.
Amenize os sintomas
Embora todos esses sentimentos, juntos e misturados, possam deixar qualquer um cabisbaixo e sem vontade de brindar coisa alguma, os especialistas não acreditam que se trate de um tipo de depressão específico. Isso porque não há nada de patológico nesse estado de melancolia, que tende a passar assim que o ano novo engrena, de fato. Ainda assim, é possível adotar algumas estratégias para atravessar o período sem tanto sofrimento.